Cerca de 270 pessoas participam de palestras do Fórum Tecnológico do Leite

Cerca de 270 pessoas participam de palestras do Fórum Tecnológico do Leite

Tendo por local o Colégio Teutônia, no dia 04 de julho ocorreu o Fórum Tecnológico do Leite 2017 – 11ª Edição, cujo ciclo de palestras nos turnos da tarde e da noite reuniu em torno de 270 pessoas, entre produtores rurais, profissionais técnicos, lideranças e estudantes, bem como a comunidade em geral. Tradicionalmente o evento ocorre no mês de setembro e marca as comemorações pelo Dia Estadual do Leite em Teutônia, celebrado na terceira quarta-feira do mês de setembro. Neste ano, a partir de definição da comissão organizadora, considerando que o Fórum passa a ocorrer a cada dois anos, conjuntamente à Feira Agro-Comercial, edição especial diferenciada e de programação reduzida foi antecipada para o mês de julho.

 

Valorização do saber e da cadeia produtiva

 

O prefeito de Teutônia, Jonatan Brönstrup, falando em nome das demais autoridades representadas, enalteceu a importância da cadeia produtiva. “O leite é um dos produtos mais nutritivos na alimentação humana. Além disso, possui grande importância econômica e social. Nesse contexto, o Fórum vem contribuir com a apresentação de técnicas e tecnologias que vão ao encontro do produtor rural, numa busca constante pela qualidade e volumes de produção, possibilitando a manutenção de inúmeras famílias no campo. É um evento para debater ideias, construir pensamentos e soluções para uma região cada vez mais desenvolvida no que se refere à produção de leite e ao setor primário.”

  O diretor do Colégio Teutônia, Jonas Rückert, reafirmou o compromisso do Fórum com a cadeia produtiva do leite. “Buscamos valorizar, acima de tudo, o conhecimento que poderá ser empregado nas propriedades dos produtores rurais. Com o conhecimento podemos construir uma sociedade mais justa, nos espelhando em bons exemplos. Nossa inspiração está em cada pessoa que por aqui passa e pensa no futuro no momento presente da sua vida”, frisou, lembrando os 65 anos de atividades do educandário na formação de cidadãos e profissionais qualificados para o mercado.

Falando em nome dos parceiros na organização do evento, o presidente da Cooperativa Languiru, Dirceu Bayer, ressaltou a importância do Fórum para a qualificação da mão de obra no campo e na indústria, lamentando posicionamento político que desestrutura os setores de produção. “Não se justifica, em plena entressafra, termos preços menores sendo pagos aos produtores rurais por atitudes irresponsáveis de importação de leite em pó, atingindo em cheio toda a cadeia produtiva. Ações como essas terão graves reflexos nos próximos anos, com grandes dificuldades para que a cadeia se reestruture”, lamentou, destacando ainda o Programa de Inclusão Social e Produtiva desenvolvido pela cooperativa e parceiros, em benefício dos pequenos produtores.

 

“Eu não vivo do leite, eu vivo do lucro do leite”

 

O técnico em Agropecuária e produtor de leite, Nivaldo Michetti, abordou o tema “Mudando de vida produzindo leite”, falando da trajetória da família e levando mensagem de otimismo aos produtores rurais presentes ao Fórum. Aplaudido de pé, Michetti foi enfático: “eu não vivo do leite, eu vivo do lucro do leite. Preciso de animal que me leve à praia, não preciso ter a campeã, mas a que me dê lucro e me permita desfrutar a vida”.

Com propriedades familiares em Santana do Itararé/PR e Paranaíta/MT, o produtor ressaltou a importância da gestão. “A preocupação deve ser com o lucro do negócio. Pouco importa o que escolhemos fazer para ganhar a vida, o que importa é como fazemos. Bons e maus exemplos encontramos em todos os segmentos, sempre há quem evolui e quem não vai para frente de jeito nenhum. Eu posso afirmar que minha família melhorou de vida produzindo leite”, disse.

Entre as vantagens de ser produtor de leite, Michetti elencou a rentabilidade mensal; a possibilidade de crescimento, utilizando-se de gestão, controles e planejamento do negócio; e liquidez, com demanda pela matéria-prima, o que garante segurança ao produtor, apesar da variação de preços. “Nunca fui seduzido a deixar o leite, por isso posso dizer que vivo a era da especialização. Todo os recursos são investidos na especialização da atividade que escolhi, e o campo exige essa especialização”, orientou, enaltecendo ainda o trabalho de assistência técnica. “São profissionais qualificados que participam e ajudam as famílias a mudar de vida. O trabalho de orientação é fundamental.”

Por fim, Michetti ainda falou da importância do produtor de leite para a cadeia produtiva. “Não vim aqui falar o que é certo ou errado, mas provocar a reflexão. O leite é o alimento mais importante para o ser humano, e mesmo assim as pessoas bebem mais refrigerante do que leite no Brasil. Precisamos de campanhas de marketing que nos possibilitem aumentar o consumo de leite entre os brasileiros”, sugeriu.

Para ele, o segredo do sucesso, em poucas palavras, exige aplicação, fé, paixão pelo que se faz, bom humor e controle. “Nada mais fácil que produzir leite depois que se aprende. Precisamos mudar o paradigma de litros por animal para lucro por animal.”

 

“Qualidade do início ao fim”

 

A técnica em Gestão Ambiental, graduada em Química Industrial e mestranda em Biotecnologia na Produção Industrial de Alimentos, Michele Fangmeier, supervisora de laboratório na Indústria de Laticínios da Languiru, apresentou o processo de análises de laboratório na unidade e o case de sucesso da cooperativa – “Qualidade do início ao fim”, tecnologia que utiliza o QR Code e garante a rastreabilidade a partir da industrialização do leite até o ponto de venda, além de trazer informações sobre a qualidade da matéria-prima no seu processo de produção.

“A qualidade dos produtos lácteos que os consumidores adquirem nas gôndolas dos supermercados deve iniciar na propriedade rural, passando pela coleta dessa matéria-prima e todos os cuidados no processo de industrialização, envase e distribuição. No trabalho que desenvolvemos no laboratório da Indústria de Laticínios da Languiru, o lema é ‘prevenir para não remediar’, num programa de acompanhamento sistemático e avaliações dos diferentes aspectos do processo para garantir que os padrões de qualidade estejam sendo cumpridos”, resumiu Michele.

A palestra, de caráter técnico, detalhou todas as análises realizadas pela Languiru e sua importância para garantir a qualidade do produto. Entre outros números, a química destacou que são recebidas aproximadamente 960 amostras de leite por dia, totalizando 5,8 mil análises diariamente, que iniciam já no trabalho do transportador na propriedade dos associados, além de contar com o trabalho de 25 analistas no laboratório da Indústria de Laticínios da cooperativa. “Trabalhamos com muita responsabilidade, atendendo todos os critérios de legislação e exigências que consideram parâmetros nacionais e internacionais. A Languiru também passa por auditorias constantes e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) concedeu nota A à indústria na última avaliação. Realizamos todas as análises em cada etapa pela qual passa o leite para que não ocorram falhas no produto que chega ao consumidor”, frisou, acrescentado que o laboratório também atende necessidades das demais unidades industriais da cooperativa e presta serviços de análises, gratuitos, aos associados da Languiru.

Sobre o QR Code, apresentou a solução digital disponibilizada ao mercado pela Languiru e SIG Combibloc. “A Cooperativa Languiru sempre primou pela qualidade de seus produtos, e o nosso leite conta com esse reconhecimento local e nacional. A utilização desta nova tecnologia nas embalagens UHT nos permite mostrar aos consumidores que o leite Languiru é diferenciado. É possível acompanhar o processo de qualidade do início ao fim da cadeia produtiva e rastrear o produto a partir do seu processo de industrialização”, destacou Michele.

Essa tecnologia armazena todo o histórico do produto, podendo ser acessado pelos consumidores, de maneira rápida e prática, por meio de um aplicativo de leitura de QR Code.

 

“Como produzir leite de qualidade na propriedade rural”

 

Encerrando o ciclo de palestras, o médico veterinário da Emater/RS-Ascar, Martin Schmachtenberg, abordou o tema “Como produzir leite de qualidade na propriedade rural”. De maneira bastante didática e com fotografias para ilustrar, ele procurou explicar o que é leite de qualidade nos aspectos higiênico-sanitários, considerando baixa carga microbiana (UFC), saúde da glândula mamária (CCS), ausência de contaminantes (antibióticos) e saúde animal (livres de tuberculose e brucelose).

“Independente de receber bonificação por produção de leite com qualidade, o maior interessado é o produtor. O processo de produção, coleta e industrialização do leite evoluiu muito, e buscar a qualidade vai além do retorno financeiro, mas também leva em consideração o bem-estar animal, com vacas mais saudáveis, que consequentemente fornecem leite de melhor qualidade. Essa característica da matéria-prima influencia no rendimento, na qualidade e na segurança do produto final”, exemplificou Schmachtenberg, ressaltando que a indústria não recupera a qualidade do leite.

O veterinário também enalteceu o papel da assistência técnica. “Esses profissionais podem auxiliar na orientação dos produtores rurais, possibilitando que entreguem à indústria um leite de qualidade, dentro dos padrões de exigência.”

Entre outras dicas, Schmachtenberg ressaltou a importância da higiene do ordenhador, o controle da temperatura do leite, a ordenha de tetos limpos e secos, o descarte dos três primeiros jatos, o pré e o pós-dipping (desinfecção dos tetos antes e depois da ordenha), o controle da vida útil das teteiras e mangueiras (2,4 mil ordenhas ou no máximo seis meses) e as condições de higiene do resfriador. “É fundamental ter controle do rebanho, fazendo anotações”, concluiu.

O Fórum Tecnológico do Leite 2017 – 11ª Edição foi uma promoção do Colégio Teutônia, com o apoio das cooperativas Languiru, Certel Energia e Sicredi, prefeituras de Teutônia e de Westfália, Emater/RS-Ascar, Fetag-RS, Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA), Regional Sindical Vale do Taquari e Associação dos Engenheiros Agrônomos do Vale do Taquari (ASEAT).

 

 

 

TEXTO – Leandro Augusto Hamester

CRÉDITO DAS FOTOS – Leandro Augusto Hamester