Entre mochilas e telas, o peso que não se vê

Entre mochilas e telas, o peso que não se vê

Colégio Teutônia promove noite de diálogos com pais sobre os riscos silenciosos do mundo digital e os mitos da postura infantil

Nem todo fardo se carrega nas costas. Alguns, invisíveis, se acumulam no silêncio das redes sociais, nas noites mal dormidas e nas dores que não vêm só da mochila. Foi com essa sensibilidade que o Colégio Teutônia promoveu, na noite de terça-feira (08), programação especial voltada às famílias dos estudantes do 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental e da 1ª à 3ª série do Ensino Médio. Dois temas que desafiam a rotina de pais e educadores foram colocados à mesa: os cuidados com a postura das crianças e adolescentes e o uso abusivo de telas e redes sociais.

A primeira palestra da noite, “Mochilas, postura e dor: mitos e verdades”, foi conduzida pelo fisioterapeuta Eduardo Sehnem. Em seguida, Daniela Stefani Ritter e Marta Ferronato Delatorre, do Serviço Municipal de Apoio Escolar e Ação Restaurativa (Semear), abordaram o tema “Uso abusivo de telas e redes sociais: como proteger nossos filhos”.

Peso real ou mito

Eduardo Sehnem: “Obesidade e sobrepeso são fatores de risco para desvios posturais”

Sehnem buscou desconstruir conceitos amplamente difundidos sobre o uso de mochilas. “É importante entender que as mochilas não oferecem grande risco para postura ou para dor dos estudantes, principalmente quando a criança percorre um pequeno trajeto até a sua sala de aula. Cabe a nós avaliarmos mitos pregados pelo senso comum. Demonizar o uso de mochilas nem sempre é o caminho correto”, afirmou.

Ele destacou que a dor nem sempre está associada ao peso da mochila, mas sim a fatores como má qualidade do sono e sedentarismo. “Estilo de vida ativo, mobilidade, consciência corporal e controle neuromuscular são fundamentais para que a criança tolere o carregamento da mochila naturalmente.”

Segundo o fisioterapeuta, o problema maior pode estar fora da mochila. “Obesidade e sobrepeso são fatores de risco para desvios posturais. Mais um motivo para valorizarmos as aulas de Educação Física e o incentivo ao esporte.”

Sobre o modelo de mochila, frisou que “a tradicional, usada nos dois ombros, com ajuste adequado, é uma excelente opção, já que a com rodinhas pode representar um problema em escadarias e se as crianças precisarem fazer longo deslocamento.”

Entre as dicas práticas, destacou: distribuir os materiais corretamente, priorizando os mais pesados junto às costas; usar as duas alças; ajustar as tiras de forma simétrica; evitar mochilas altas demais; carregar somente os materiais necessários para o dia; materiais extras devem ser carregados fora da mochila, próximo ao corpo; e considerar modelos com apoio na cintura. Também alertou para a observação da postura, especialmente entre meninas, mais suscetíveis a escoliose a partir dos 9 anos.

O perigo que se conecta em silêncio

Daniela Stefani Ritter e Marta Ferronato Delatorre: “Tomar conta dos filhos não é bisbilhotar. É exercer cuidado”

Na segunda palestra, Daniela e Marta lançaram um olhar preocupado sobre o uso descontrolado das telas por crianças e adolescentes. “As redes sociais conectam o mundo inteiro dentro das nossas casas, nos quartos de crianças e adolescentes”, disse Daniela.

Segundo as especialistas, os impactos vão além da distração, envolvem privação de sono, atenção fragmentada, dependência digital e exposição a riscos. “Elas são um perigo real. Há muito mais crimes contra crianças e adolescentes nas redes do que nas ruas, isso é estatístico”, alertou Marta. “Tomar conta dos filhos não é bisbilhotar. É exercer cuidado.”

As palestrantes destacaram ainda a importância da legislação brasileira que proíbe o uso de celulares nas escolas. “A simples presença do celular sobre a mesa já reduz em 30% a capacidade de atenção”, alertaram.

Entre as orientações às famílias, destacaram o uso de aplicativos de controle parental; nada de smartphones antes do 9º ano, de redes sociais antes dos 16 anos de idade e de celular na escola; incentivo à leitura, às brincadeiras ao ar livre, às atividades físicas e aos momentos em família.

“Vamos cuidar das nossas crianças e adolescentes. Precisamos evoluir ao ponto em que cause estranheza vermos crianças com celular na mão tanto quanto as vermos com um cigarro”, compararam.

Um chamado à responsabilidade

A orientadora educacional do CT, Rosa Maria Schneider, destacou a relevância dos temas abordados. “São assuntos sérios, que nos desacomodam. Surgiram a partir de conversas e atendimentos individuais em nossa escola.”

A noite encerrou com um convite à reflexão, feito por Daniela e Marta: “Que seres humanos estamos formando? Quais os nossos desafios enquanto adultos responsáveis?”. A resposta, certamente, começa no exemplo que damos — no que carregamos nas costas e no que permitimos entrar pela tela.

TEXTO – Leandro Augusto Hamester
CRÉDITO DAS FOTOS – Leandro Augusto Hamester